sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Para ler bebendo Guaravita

Hoje eu tive uma atividade muito construtiva na minha faculdade. Ela se chama auto-avaliação. Em primeiro lugar, situação estrutural do momento: a professora é muito ruim, eu acho que ninguém aprendeu nada na aula dela, ela é super desorganizada, todo mundo fala que ela é louca (e eu acho mesmo que ela tem altas doses de loucura, mas altas mesmo), enfim, não é o perfil tradicional de uma professora universitária. Apenas para instrumento de exemplo: as melhores aulas dela (na minha opinião) foram as que ela lia um texto em sala com a gente e discutia o que tava sendo falado no texto. Confesso que alguns conceitos apresentados nos textos eu iria demorar bem mais para entender sem ela, mas ler textos em sala é uma atividade que eu não fazia desde a 5ª série, ou algo assim. Daí, essa mulher não faz merda nenhuma direito o período inteiro, daí hoje, enquanto alguns alunos faziam prova de segunda chamada, ela fez um círculo com os outros alunos e começou a brincadeira. Em segundo lugar, situação conjuntural do momento: metade da galera (me incluam nessa metade) foi para o Democráticos ontem e dormiu algo em torno de 3 horas durante a noite (ou seja, ressaca, sono e vontade desesperadora de abandonar o recinto); apenas um aluno tinha modéstia. A atividade não tinha nada de difícil de se explicar: ela pegava a lista de chamada (que ela conseguiu perder 3 vezes no meio dos trabalhos e provas), lia o nome do condenado e virava para ele "então, fulano, diga". É, era só isso, tipo Ditadura Militar! Eu fiquei esperando ela, em apenas um movimento rápido e brusco (o que seria altamente improvável, porque parece que ela está sempre sob influência de maconha) tirar um daqueles aparelhos de choque da sua enorme bolsa, colocar nos mamilos do rapaz e berrar "vamos, rapaz, eu não tenho o dia inteiro, fala logo!!!! Diga, mocinho, diga tudo o que sabe!!!!" Mas, enfim, voltando à realidade, foi interessante com o primeiro coitado. Ele ficou uns 3 minutos meio em estado de choque, do tipo "é só isso, eu falo a minha nota e vou embora, acabou? Ela não vai fazer nenhuma pergunta substancial?", até que ela se tocou que faltava alguma coisa e disse "o que você achou da nossa matéria, em geral?". Daí (sorte que o cara era bem sagaz, se fosse um zé ruela, ele não conseguiria falar nada MESMO) o rapaz, com uma eloqüência assustadora, disse que achava que sua assiduidade tinha sido muito boa (apesar de eu achar que ele foi em menos aulas do que eu, que viajei um mês inteiro no meio do período), que acredita que a aula abordava aspectos gerais de várias matérias, que ele merecia 9,5 porque não tinha entregado todos os trabalhos (a verdade é que ele entregou menos da metade dos trabalhos). Daí em diante, seguiu-se um festival de cara-de-pau, que só deve perder para o Senado Nacional. Praticamente todos os alunos se deram 10, alegando os motivos mais absurdos. O mais comum (lê-se "o que TODO MUNDO falou quando não tinha criatividade", o que era bem comum, porque ninguém sabe ao certo do que se trata a matéria até hoje) era a pessoa dizer que leu textos interessantes, que os trabalhos foram interessantes, que as abordagens feitas em sala eram interessantes, enfim, que os óculos dela eram interessantes. Eu creio que houve uma distribuição gratuita de Guaravita antes dessa aula, porque "Guaravita quem bebe dá 10" (tu-dum-dum-tss) (eu juro que não fui eu que inventei essa piada, foi a mais alterada pela noite anterior, o que lhe dá um crédito, mas eu também admito que na hora achei super engraçado). Mas, enfim, minha gente, o que eu quero dizer é o seguinte: como o mundo seria diferente se houvesse auto-avaliação para tudo nessa vida. Por um lado seria bom, porque a nossa opinião seria ao menos ouvida em todas as situações. Mas por outro lado seria ruim porque a pessoa teria o direito de te questionar o porquê de você ter se avaliado bem e você provavelmente não teria nenhum argumento válido. Imagine, por exemplo, as seguintes situações: você passa a noite inteira conversando com uma menina, daí lá pelas tantas ela olha o relógio, vira para você e fala: "Então, Chico, daqui a pouco eu tenho que ir embora, eu acho que a gente podia partir para a nossa auto-avaliação. Diga-me: o que você achou da nossa conversa? Ela te acrescentou alguma coisa?" ou depois de um ato sexual (esse seria altamente interessante, porém comentá-lo com detalhes sórdidos não me parece tão interessante assim, então deixo a cabo da imaginação de cada um como seria esse diálogo) ou depois de um vestibular. CARA, esse seria o melhor! Mesmo! Imagina, aquele monte de vestibulando inventando que estudou o ano inteiro, que por isso merecia entrar na universidade, que apenas deu azar porque a prova abordou justamente os conceitos que ele não aprofundou o suficiente. Em resumo: eu acho que, concluindo, se fôssemos obrigados a expressar a nossa avaliação acerca de tudo (inclusive de nós mesmos, a que seria extremamente difícil), a vida acabaria sendo mais difícil, sim. Mas devo parar por aqui, porque esse post foi demasiado sério e eu não quero isso para o meu blog. Música do dia: "À Palo Seco", versão do Los Hermanos

Um comentário:

Felipe Drummond disse...

Absolutamente espetacultar! O mais engraçado é que eu li como se tivesse ouvindo você falar pessoalmente uhauhauhauhauhauh!
MT boa.